Os fracassos dentro de campo não foram as únicas heranças malditas que a gestão Vitorio Piffero legou ao seu sucessor. Na ânsia de evitar o rebaixamento para a Série B, e mesmo que apoiado por bons argumentos jurídicos, o Inter foi jogado em uma aventura nos tribunais que macula a imagem da instituição, drena recursos e cujas consequências ainda são imprevisíveis. Trata-se do Caso Victor Ramos, que segue tramitando no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e, mais recentemente, chegou ao Ministério Público do Rio de Janeiro.
O caso em si já foi julgado no STJD e também na Corte Arbitral do Esporte, na Suíça. O Inter foi derrotado aqui e lá. Porém, durante o processo, os advogados do clube receberam e utilizaram a compilação de uma troca de e-mails entre o diretor de registros da CBF, Reynaldo Buzzoni, e o então diretor de futebol do Vitória, Anderson Barros. Neles, Buzzoni confirma a tese do Inter de que a transferência de Victor Ramos do Monterrey (México) para o Vitória deveria seguir o trâmite internacional.
Porém, tais e-mails foram alterados pelo agente do jogador. Segundo as conclusões do inquérito levado a cabo pelo auditor do STJD, Mauro Marcelo, Francisco Godoy teria feito as mudanças para ajudar a compreensão dos dirigentes do Monterrey sobre os procedimentos necessários ao registro. Tais mudanças foram feitas nos e-mails em fevereiro de 2016, dias depois de o clube baiano contratar o zagueiro.
O fato de não ter feito a adulteração, em tese, não isenta o Inter de responsabilidades – embora seja uma imensa atenuante. Os advogados colorados tentarão provar que não tinham como saber da adulteração. Afinal, receberam o documento por e-mail às 17h35min do dia 7 de dezembro de 2016 e o anexaram ao processo que tramitava no STJD – pedindo que o Vitória perdesse pontos no Brasileirão – às 18h56min. Ou seja, apenas 81 minutos depois de recebê-los.
Exclusão é remota
O caso está nas mãos do procurador- geral do STJD, Felipe Bevilacqua. Ele recebeu o inquérito na última quinta-feira e deve apresentar denúncia contra o Inter e os demais envolvidos, inclusive o ex-presidente Vitorio Piffero e o ex-vice jurídico, Giovani Gazen. Os mais pessimistas dizem que o clube pode ser punido até com um novo rebaixamento. Porém, a hipótese é considerada bastante remota por pessoas que transitam pelo STJD. Apesar do clima de animosidade que há entre os dirigentes colorados e a entidade, uma punição tão drástica, ainda que prevista no Código Disciplinar da Fifa, seria exagerada, principalmente depois que o inquérito comprovou que não foi o Inter que fez a alteração dos e-mails.
Bevilacqua também poderia, após analisar o inquérito, arquivar o caso. Essa alternativa, entretanto, é ainda mais improvável. “Não houve denúncia ainda e pode até não haver. Por isso, não vamos ficar examinando hipóteses de punição. Aliás, estamos com a consciência tranquila, pois o clube não fez qualquer infração ou ato que desse motivo para punição. Depois, se houver processo, vamos analisar as possibilidades”, observa o atual vice-presidente jurídico do Inter, Gustavo Juchem.
A defesa do Inter está preparada para o embate jurídico que deve ocorrer. Até um parecer do jurista Miguel Reale Júnior – um dos autores do processo que redundou no afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff – foi apresentado para sustentar que o Inter apenas repassou os e-mails. Além disso, o jurista confirma que, mesmo alterados, os e-mails compilados não alteram o conteúdo dos originais. Ou seja, em tese, não havia motivo para os dirigentes colorados realizarem a falsificação. Até o julgamento, porém, o Inter, seu dirigentes, seus advogados e, sobretudo, a torcida, ficarão sob suspense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário