E até que demorou anos – para não dizer décadas – para que o pássaro mais atrevido dos desenhos chegasse às telonas. Pica-Pau: o Filme está em cartaz desde a quinta-feira (5/10) e tem no elenco uma brasileira: a atriz Thaila Ayala. Outro detalhe é que a versão não é só uma animação: é em live-action, ou seja, atores reais contracenando com uma versão em 3D do pássaro.
Na história, o travesso continua sua luta incessante por marcar seu território. Entre a gargalhada clássica – e inesquecível – e algumas bicadas, Pica-Pau terá que enfrentar os vigaristas Lance Walters (Timothy Omundson) e Vanessa (Thaila Ayala). Precisando de grana, os dois pretendem construir uma mansão no meio da floresta e, depois tirar vantagem da situação. Só que eles não sabem que nessa floresta vive o terrível e adorável pássaro.
Um filme que vale pela diversão, já que falta um pouco de nostalgia para quem assistiu ao clássico desenho
O travesso Pica-Pau está metido em mais uma de suas insanas brigas por território. Os inimigos da vez são o vigarista Lance Walters (Timothy Omundson) e sua namorada Vanessa (Thaila Ayala). Precisando de dinheiro, eles estão determinados a construir uma extravagante mansão na floresta e lucrar com sua venda, mas Pica-Pau também mora no terreno e não pretende deixá-los em paz.
O público brasileiro viu e continua vendo tanto o desenho do Pica-Pau na televisão que a Universal Pictures deduziu que seria bom investimento um longa-metragem sobre o pássaro louco dedicado ao mercado nacional. O estúdio deu o projeto ao especialista em sequências Alex Zamm O Fada do Dente 2, Dr. Dolittle 5, Os Batutinhas: Uma Nova Aventura), contratou Thaila Ayala para impulsionar a divulgação na mídia local, investiu alguns dólares no CGI e Pica-Pau: O Filme nasceu. Não é tão abominável quanto parecia, não chega a ser bom como poderia. Zamm honra o currículo e entrega uma comédia familiar (quase) na medida para a Sessão da Tarde do século XXI, uma produção solar cheia de piadocas, crianças pouco talentosas e muita cara de telefilme. O colorido pássaro digital totalmente destoante do resto e os efeitos limitados reforçam a última característica.
A trama não tem mistério, Lance Walters (Timothy Omundson, perfeito) é demitido e decide construir uma casa conceitual no terreno que herdou do avô, sonhando depois vendê-la por milhões e sustentar a vida de luxo que leva ao lado da namorada Vanessa (Ayala). Só não contava Lance com a astúcia e a impertinência do Pica-Pau, que mora na área da futura mansão e não está disposto a aceitar os novos vizinhos. A guerra é declarada e os adultos têm duas opções: aturar ou surtar. Tommy (Graham Verchere), filho distante do empreendedor, tem a vantagem da pouca idade (e do inimigo em comum) e acaba se tornando amigão do pássaro. Repetem-se cenas do animal tocando o terror, caçadores buscando vingança, Lance se ferrando e o garoto, que não larga o celular, se divertindo com o caos. “Não sabe brincar, não desce pro play” faz parte da dublagem.
Se a inconfundível risada do Pica-Pau (voz de Sergio Stern) é pouco ouvida, em compensação ele conversa com os espectadores. Sim, Pica-Pau quebra a quarta parede e tal inovação é de longe a melhor coisa do longa, por mais que seus comentários nem sempre sejam inspirados. Os melhores momentos são quando ele reconhece o tema de abertura do desenho e provoca o sadismo do público. A hora em que pede que as crianças não repitam seus atos em casa e se diz “profissional de desenho” é uma tentativa de limpeza de barra insuficiente. O desenho animado sempre foi politicamente incorreto, repleto de ações criminosas executadas pelo protagonista e seria difícil o filme preservar a essência do personagem eliminando seu caráter extremamente violento, porém a explosão da cozinha armada passo a passo é ilustrativa demais para algo destinado ao público infantil e um mero “não repitam isso em casa” não apaga a irresponsabilidade. Bicadas na cabeça não deixam marcas ou tiram sangue, correntes elétricas não matam e compromisso com a realidade não se mostra uma grande preocupação do realizador com exceção da lamentável sequência.
Ainda no tópico “desnecessários” é possível falar de Thaila Ayala. Não pode ser por representatividade que ela está na comédia, pois interpreta uma fútil dondoca que não tira o salto na floresta e é a primeira a jogar a toalha e sair derrotada pelo Pica-Pau. Tão fraca que sequer pode ser considerada vilã, sua personagem não tem qualquer relevância na trama. Até o product placement da Havaianas impressiona mais. Sua atuação pode estar distante do nível “tirando leite de pedra” do expressivo Timothy Omundson, mas ao menos ela não entra na lista de piores do ano como o trio musical infantil. Bonecos seriam melhores.Quem acha o que o Pica-Pau faz engraçado terá várias chances de rir.
Tem piada de peido, de agressão, de tombo, de sujeira, de nudez, de fezes, de burrice, basicamente todos os estilos infantis. Mais preocupado em criar contexto para o passarinho botar para quebrar,o roteiro é bem esquemático e não tem vergonha de apelar com a dupla de vilões idiotas para garantir humor extra. A mensagem de preservação ambiental sugerida no começo nunca chega a ser abraçada e a guarda florestal consegue parecer ainda mais incompetente do que os caçadores Debi e Lóide, uma verdadeira proeza.
“A história não me importa, eu quero é ver o Pica-Pau atazanar”, você pode pensar e, nesse caso, devo avisar que o “deus do caos e da confusão” apronta bastante, sim, mas não escapa da punição e transformação. Traindo o espírito inconsequente do protagonista para transmitir o ensinamento bom esperado de uma produção para a família, Pica-Pau: O Filme forja sentimentalismo onde nunca houve e impõe ao pássaro selvagem a injusta derrota que ele jamais teve no desenho animado. “O passarinho dele é maluco”, como diz um dos personagens, porém nem tanto quanto antes. E o pronome possessivo faz toda diferença.
Não há dúvida que eu sou da geração Pica-pau e era muito criança quando comecei a assistir os seus desenhos animados - assinados por Walter Lantz - ainda na época da antiga TV Tupi. Todos curtos, com várias semelhanças, a mais célebre sendo o fato de que o herói era irritante, mal-educado, comprador de brigas. O notável é que ele resistiria ao tempo tanto que voltaria mais tarde, fazendo as mesmas coisas na televisão. Ainda assim acho triste que ele não tenha merecido desta vez uma versão norte-americana sendo que este longa foi feito apenas para alguns países e seu criador Walter Lantz já morreu faz tempo (1900-1994). Ele foi responsável pelo primeiro desenho animado feito pelo sistema technicolor, e criou outros personagens menos famosos (Andy Panda, Chilly Willy, Oswaldo o Coelho da Sorte).
Parece que foi um esforço interessante de marketing eles terem viajado pelo Brasil todo com um boneco do Pica-pau e afins, na tentativa de relembrar a garotada de sua existência!
Um detalhe, o diretor Zamm apesar de ser em geral desconhecido dirigiu muitos filmes, mas todos Classe B e pouco conhecidos aqui. Encontrei também na Wikipedia mais detalhes que confirma que ele foi o primeiro desenho animado exibido na TV brasileira, em inglês, legendado quando necessário (mas não se entendia mesmo o que dizia) ainda em 19 de setembro de 1950. Uma década depois a Record exibiria com dublagens, mas logo ele voltaria ao SBT. A Globo também entrou nesse jogo com o Globinho.
Zamm dirigiu Os Batutinhas , e agora neste Pica-pau ele usa atores ao vivo e também na tecnologia CGI. Os atores Thaila Ayala e Eric Bausa (em português) e Emily Olmes e Timothy Onumson no idioma original fazem um casal, Vanessa e Lance, que entra em guerra com o herói, porque querem construir a casa de seus sonhos e para isso derrubar a casa do herói. Ao menos no momento a ideia és não distribuir o filme nos Estados Unidos. Já houve coisa semelhante com o personagem mexicano Top Cat. E o espectador vai ficar na dúvida esse não é o Pica-pau da nossa infância (até porque hoje em dia seria considerado mal-educado, irritante, aprontador, tudo aquilo que justamente o tornava tão interessante, além de ter domínio da música também) Coisas do nosso tempo !
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